Quem passa pela Marisa Figueiredo, não passa sem ela o café lhe entornar.
Esta bem podia ser uma música escrita por ou para a autora do blog Em Banho Café , que a par da paixão por este grão torrado, tem também a da escrita e a habilidade exímia de entornar qualquer líquido que esteja num recipiente. O seu mais recente projecto, junta precisamente a música e as histórias e mora no blog Conta-me uma Música.
Começámos por ser colegas de trabalho, mas fácil e rapidamente passámos a amigas de jantares mensais, sempre temperados a gargalhadas e regados de situações memoráveis.
Nesta flash interview que lhe fiz, poderão ficar a conhecer um pouco mais desta mente criativa e talentosa.
Já tiveste os teus 5 minutos de fama?
Sim, se contares com a vez em que apareci de rabo para o ar a olhar para o telescópico no Diário de Notícias (noite de ver as estrelas no Observatório Astronómico) ou a separar lixo pelos ecopontos no programa da Ana Marques. Mas como há quem diga que são 15 min de fama, fico a aguardar por outros 10 min mais dignos.
O que há sempre em tua casa?
Café, canecas, jogos de tabuleiro e um lugar à mesa para um amigo.
Quem foi a última pessoa a enviar-te uma sms?
A minha colega de casa.
E o que dizia a sms?
“Vou arrancar.”
Quando foi a última vez que foste ao shopping?
No sábado passado, logo a seguir ao concerto do Ed Sheeran. Que sufoco! Fica a dica: não tentem ir ao Colombo depois de um mega concerto com milhares de pessoas no Estádio da Luz!
Tenho para mim que ela tem um gosto especial em ver o meu ar de pânico perante este desafio e em me dar as palavras mais desconexas que consegue. Ou não fosse ela, ao momento, a pessoa que mais vezes me lançou este repto.
Ora então, como mandam as regras deste desafio, pedi à Marisa 5 premissas, sobre as quais eu teria de escrever uma short story. As premissas que ela me deu foram as seguintes:
Conflito
Gomas
Água-pé
Sono
Colchão
O resultado foi este…
“Boa noite. Por trás do conflito entre Juan Guaidó e Nicolás Maduro estão os Estados Unidos e a Rússia. O governo de Moscovo criticou os americanos por tentarem interferir e os Estados Unidos responderam à altura. Vamos em directo até Caracas onde está o nosso enviado especial. Gustavo, como se têm vivido estes últimos acontecimentos aí na Venezuela?”
Augusto balbucia, pega no comando da televisão e desliga-a. Deixa cair o braço no sofá como se fosse um corpo morto e o comando cai no chão separando-se em algumas peças, mas ele nem reage. Na outra mão segura uma garrafa de água-pé bebida até meio e sorve mais um gole. Com pouco equilíbrio, o homem inclina-se sobre a mesa à sua frente, pousa essa garrafa e pega numa garrafa de água de plástico à qual junta um pó branco onde no rótulo se lê “Dilotrine – Pó Inseticida”, tapa-a, abana-a para misturar bem aquele soporífero de existência e pára. Fica estático a olhar para a garrafa.
“De que vale continuar esta miséria de vida?” pensa em voz alta e continua “Sou um nada, devia era desaparecer…”.
Retira a tampa da garrafa e leva-a à boca. Pára. A cobardia inerte-lhe os movimentos. Volta a tapar a garrafa e pousa-a na mesa. Pega na garrafa de água-pé e levanta-se, saindo da sala em direcção ao quarto. Junto à cama, deixa tombar a sua moribunda existência no colchão e o álcool encarrega-se de o fazer entrar num sono profundo.
A chave roda na fechadura e Rita entra em casa. O seu franzino corpo de 6 anos mal consegue carregar a enorme mochila da escola. Bate a porta e encaminha-se para a sala. Atira o seu cansaço para cima do sofá e tira a mala dos ombros. Afasta dos olhos a franja suada e retira de dentro da mala um saco de gomas. Recosta-se alegre e come uma mão cheia, intercalando os marshmallows, as garrafinhas de coca-cola e as línguas azedas. Depois de uma valente barrigada de doces, repara na garrafa de plástico em cima da mesa e alcança-a para lhe matar a sede.
Bebe todo o líquido sofregamente.
[Foto: Joanna Kosinska]




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