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Veio morar comigo, pouco tempo depois de nos termos separado.

Já a conhecia de vista, mas nunca tínhamos estado juntas o tempo suficiente, para que sequer algum dia a tivesse convidado para jantar num daqueles restaurantes da moda que gosto de ir.

Foi ela que me abordou inicialmente e tentou manter contacto frequente. Ao início não lhe quis dar muita conversa, afinal de contas, ainda que seja sociável, não sou assim de dar confiança a desconhecidos ou meros passageiros ocasionais da minha vida.

Aos poucos, fomos combinando coisas. Um almoço aqui, uma tarde acolá e quando dei conta passou a minha gémea siamesa, estava quase 24h do dia comigo.

Quando me apercebi tentei afastá-la, achei que estava a ser evasiva e intrusiva demais e fiquei desconfortável. Quando ela ligava, eu dizia que já tinha coisas combinadas, se comentava as minhas fotos nas redes sociais, eu tentava ignorar, até que um dia tocou à campainha de minha casa.

Primeiro achei que era a porteira, sei que o esposo está adoentado e podia precisar de alguma coisa. Ainda assim, espreitei pelo óculo da porta e qual não é o meu espanto quando vejo que era ela.

“Raios, como me safo desta?”, “Que porra, tão inconveniente!” e “Não vou abrir, não quero.”, foram os pensamentos que me encheram a mente naquele instante. Ela insistiu e bateu à porta. Como deve ter ouvido barulho, estava certa de que eu estava em casa. “Quem te manda estar em casa a uma sexta-feira à noite!”, pensei.

Abri a porta, lentamente e acompanhada de um longo suspiro.

– Olá. Por aqui?

– Sim, vim fazer companhia. – disse ela intrusiva.

– Mas eu…

– Eu sei que me andas a evitar…

Fiquei um pouco enregelada. É tão chato sermos apanhados a evitar alguém.

– … mas na verdade eu já estou aí em casa. Só preciso que me aceites primeiro, para depois ir andando.

Meia atordoada, respirei novamente fundo, mas desta vez não como suspiro e sim com alívio de perceber a verdade.

– Ok. Entra Tristeza. Estava a fazer chá, gostas de frutos vermelhos?

 

 

 

[Foto: Vanessa Bucceri]

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