As pernas tremem ligeiramente, mas o bastante para não sentirmos a planta dos pés assente no chão, há um nervoso miudinho que nos deixa as mãos a suar, o coração passa dos 100 batimentos cardíacos por minuto, a dopamina percorre o nosso corpo à velocidade de um Porsche, a boca seca como um deserto e o estômago parece um borboletário.

 

Já alguém foi a um date? Estes são os sintomas que poderão sentir!

 

 

Entusiasmos à parte, este não é um “desses” dates. Eu e a Marisa Figueiredo do blog Em Banho Café fomos seleccionadas para participar no Speed Writing, o inédito evento nacional organizado pela editora Cordel D’ Prata que irá acontecer no dia 14 de Abril no Centro Comercial Alegro Alfragide.

 

Quanto a mim e, tal como num date, preferia não me preparar e deixar que tudo flua, mas aceitei o desafio da minha parceira de date, de treinar este encontro fortuito entre o papel e a minha imaginação e desejar que ele se transforme num namoro perpétuo.

O desafio que ela me lançou, foi o de escrever uma história em apenas 5 minutos, com as seguintes premissas: um texto sobre uma viagem, que inclua uma música, uma personagem com uma profissão insólita e a palavra “micro-ondas”.

 

O resultado foi este…

 

Entre as bossas do camelo, David olhava-a de soslaio e assim que os seus olhares se cruzavam, a timidez dele fazia-o desviar a mira para as dunas. Já tinha reparado naqueles cabelos de ouro esvoaçante no buffet de pequeno-almoço do hotel, mas aquela deusa estaria certamente acompanhada de um Adónis.

Visitar a Tunísia sozinho não tinha sido, de todo, boa ideia, mas agora tinha de tentar aproveitar os dias que lhe restavam. E ela volta a olhar para ele. “Não, deve estar a olhar para outro lado qualquer, não deve ser para mim…” pensou o jovem.

Na paragem seguinte, aproveitou para tirar fotos àquela imensidão de grãos de areia e distraído com a paisagem, nem percebeu que ela se havia aproximado.

– “Olá! Podes tirar-me uma foto?” disse ela.

Ele balbuciou um atrapalhado “Ah… sim… claro.”, pegou no telemóvel dela e centrou-a no ecrã.

– “Viajar sozinho é bom, não é?” – perguntou ela – “Ah! A propósito, chamo-me Ana…” – continuou ela esticando a mão em direcção a ele.

– “Hum… é a primeira vez que o faço… não sei, talvez acompanhado seja melhor… Como deve ser o teu caso…” – cumprimentando-a e sentindo a suave pele da sua mão.

– “Não, estou all by myself!”

Na restante viagem de camelo continuou a olhá-la, mas já sem disfarçar. Nunca tinha ficado fascinado desta forma por nenhuma mulher, logo ele tão alheio a sentimentos e nada dado a paixões. O seu desprendimento emocional tinha-o levado à profissão de doador de esperma freelancer e, o dinheiro que esta ocupação lhe dava turvava cada dia mais o seu cérebro, que de tão racional achava jamais poder apaixonar-se. Mas as micro-ondas de calor que lhe percorriam o corpo, deixavam a dúvida se seriam causadas pelo tempo seco no norte de África, se pela chegada do amor.

 

 

 

 

[Foto: a neta da Dulce]

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